A família na balança
A obesidade infantil é uma ameaça que só
se alastra e já atinge uma em cada três crianças brasileiras. Veja como
prevenir e lidar com esse mal em casa.
1. Diário e regras claras
O tratamento requer a participação da família. A criança precisa ser tutorada, não pode assumir a responsabilidade sozinha. Vários fatores levam ao ganho de peso, como herança genética e hábitos ruins. A recomendaçã é fixar horários para as refeições, privilegiar alimentos de qualidade e incentivar a atividade física. Não é indicado dietas rigorosas, que são difíceis de seguir e ainda prejudicam o crescimento. Chegar à adolescência com sobrepeso aumenta em 80% os riscos de obesidade na vida adulta.
2. Emoções escondidas
Dos 3 aos 6 anos, a energia está voltada para aprender, descobrir o mundo por meio de atividades lúdicas, estimuladas na escola e na família. Comer excessivamente, muitas vezes, é uma forma de trazer atenção para si. Na falta de linguagem para expressar as angústias, a comunicação é feita por meio do corpo. Em alguns casos, um tratamento psicológico pode diminuir as fontes internas do stress e ajudar a desenvolver estratégias para evitar a compensação — o devorar compulsivo — e elevar a autoestima.
3. Mulher magra, mais pressão
Ao estudar as famílias de obesos, a psicóloga Patrícia Vieira Spada, pós-doutoranda em nutrição pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que estuda o vínculo de mãe e filho em casos de obesidade infantil, percebeu que as mães magras ou com peso adequado apresentavam mais ansiedade ao lidar com filhos obesos do que as gordinhas. "Para a mulher que, inconscientemente, dá grande importância à aparência, é inaceitável a criança não refletir seu corpo esbelto." A mãe que já foi gorda e emagreceu também corre o risco de acabar exagerando no controle. "Seu temor é que a filha padeça como ela", afirma a psicóloga Ceres Alves de Araujo, professora de pós-graduação em psicologia clínica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). E o excesso de preocupação pode condicionar o olhar. "Cada vez que vê a filha, ela só enxerga uma garotinha gorda, com problemas, e não uma pessoa com suas boas características", diz. Portanto, ao administrar a própria ansiedade — ainda que precise recorrer a apoio psicológico —, essa mãe magra terá mais condições de ajudar a menina.
4. Ajuste nas relações
Os pais são um espelho para os filhos. A relação afetiva desenvolvida com eles na primeira infância é a base para a formação da identidade, da autoconfiança e do amor-próprio. A menina constrói sua imagem corporal atenta à referência materna. A mãe vaidosa, que cuida de si no limite saudável, oferece um bom modelo de feminilidade. Isso pode estimular afilha a controlar o peso. Já a obcecada com dietas, que contabiliza calorias o tempo todo e malha como louca, além de não oferecer uma inspiração saudável, tende a isolar a menina que se afastou do padrão "família de supermagros". Segundo Patrícia Spada, ao sentir-sea ovelha negra da casa, a filha pode reagir comendo mais - o comportamento é uma tentativa de existir, independentemente do desejo da mãe. Assim, ela entra em um círculo vicioso de emoções e comilança. "A mãe precisa estabelecer uma relação com a filha, não só com a alimentação da filha", explica a expert. É fundamental fazer coisas agradáveis juntas, compartilhar brincadeiras e assuntos diferentes.
5. Treino motivador
Atividade física é essencial para controlar o peso. "Para crianças e adolescentes, a Organização Mundial da Saúde recomenda exercícios com intensidade de moderada a alta, totalizando 300 minutos por semana, divididos nos sete dias - cerca de 40 minutos diários", explica o educador físico Paulo Henrique Guerra, que pesquisa a obesidade infantil para seu doutorado na Universidade de São Paulo (USP). "Na escola, o tempo não chega à metade disso." É necessário, então, buscar um reforço. Ele observa que é importante escolher uma atividade de que a criança goste - jazz, balé, futebol, natação, judô -, e não a favorita dos pais. A turma deve ser de iniciantes e sem caráter competitivo. Uma boa medida é intensificar a prática aos poucos. "Se hoje a criança nada 50 metros em um minuto, será levada a cobrir essa mesma distância em 57 segundos no treino seguinte", exemplifica. "O esforço não deve ser descomunal, mas é interessante incentivar a superação, que aumenta a autoestima e ajuda no desafio de atingir o peso ideal."
Fonte: revista Claudia